terça-feira, 26 de julho de 2011

O mal da omissão

Richard Simonetti
Na entrada de uma estação do metrô, em Nova Iorque, deparei-me com um homem maltrapilho, a dormir profundamente o sono pesado dos alcoólatras. Ao lado, uma lata para que as pessoas depositassem doações em seu benefício, e um cartaz com o seguinte apelo: Help a poor irish man keep his drinking habit. Ajude este pobre irlandês a manter o seu vício. A cena, digna de uma comédia dramática, era reveladora. Demonstrava que mesmo no país mais rico do mundo não se conseguiu solucionar o problema do alcoolismo e da exclusão social. Perto de 12% da população americana, aproximadamente 36 milhões de pessoas, vivem em estado de pobreza, alcoólatras em boa parte. Isso nos permite constatar uma tendência lamentável: a capacidade que tem o ser humano de conviver com as carências alheias, sem se condoer, sem se incomodar, sem se propor a fazer algo.

Se milhões de americanos de classe média e abastada que moram em Nova Iorque, uma das cidades mais ricas e de maior rendimento per capita do mundo, participassem de organizações não governamentais, com o propósito de ajudar os carentes de todos os matizes, esses problemas seriam solucionados facilmente. Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XV, item 10, há uma mensagem de Paulo que, reportando-se à máxima de Kardec, “Fora da caridade não há salvação”, enfatiza:

[...] Não poderia o Espiritismo provar melhor a sua origem, do que apresentando-a como regra, por isso que é um reflexo do mais puro Cristianismo. Levando-a por guia, nunca o homem se transviará. Dedicai-vos, assim,meus amigos, a perscrutar-lhe o sentido profundo e as consequências, a descobrir-lhe, por vós mesmos, todas as aplicações. Submetei todas as vossas ações ao governo da caridade e a consciência vos responderá. Não só ela evitará que pratiqueis o mal, como também fará que pratiqueis o bem, porquanto uma virtude negativa não basta: é necessária uma virtude ativa. Para fazer-se o bem, mister sempre se torna a ação da vontade; para se não praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia e a despreocupação.

Insuficiente, como afirma o apóstolo, não fazer o mal. Imperioso fazer o bem. Elementar que boa parte dos males praticados pelos homens nasça do fato de não se haver exercitado o bem com eles. Não é novidade que muitos criminosos em potencial ou consumados são formados na rude escola da exclusão social, da pobreza, da necessidade mais premente. Está demonstrado que há, quase sempre, uma história de maus-tratos, carência afetiva e frustração em nossos irmãos comprometidos com a criminalidade.

Se o Bem não chega, o mal bota as mangas de fora. Se tarda a luz, as trevas dominam. Detalhe importante, amigo leitor: nas reuniões mediúnicas manifestam-se Espíritos perturbados e infelizes, não raro inconscientes de sua situação. Em boa parte, não foram maus, apenas omissos. Por desinteresse, jamais cogitaram de que não praticar o Bem faz mal para a alma, situando-nos à margem da Harmonia Universal, regida pelo Bem Supremo: Deus! A justiça humana pune a omissão de socorro, quando fomos os responsáveis por um acidente de trânsito com vítimas.

A justiça divina pune a omissão de socorro diante de males que não causamos, mas que temos condições de minorar, envolvendo as carências humanas. Não podemos, portanto, alegar ignorância, nem dizer que não sabíamos, quando a morte nos transferir para o Além e nos pedirem contas de nossas ações. Sabíamos sim! Eu sei, você sabe, leitor amigo, todos sabemos desde que Jesus o revelou, que é preciso fazer pelo próximo o bem que desejamos para nós. Desde que Kardec fez da caridade a bandeira do Espiritismo, sabemos que não basta evitar o mal. É nosso dever indeclinável e inadiável nos movimentarmos nas lides da solidariedade, onde estivermos, a começar pelo empenho em ajudar um alcoólatra, não com a esmola que alimenta seu vício,mas com a participação na obra social que o ajude a superá-lo.

terça-feira, 19 de julho de 2011

domingo, 3 de julho de 2011