domingo, 10 de junho de 2012

 ENTREVISTA COM DIVALDO FRANCO
Muitos acreditam no final dos tempos. Como o Espiritismo encara isso?
Divaldo: Como uma superstição. Normalmente, através da história, a mudança de século sempre trouxe, particularmente na idade média, o fantasma do horror. Baseado em que, nessa mudança, a Terra se deslocaria do eixo, haveria uma erupção de epidemias, de terremotos, maremotos, de fenômenos sísmicos e, na virada do milênio, foi ainda mais apavorante, por causa desse mesmo critério supersticioso. Em todo o Evangelho, nos 27 livros que o constituem, não há nenhuma referência ao novo milênio. As observações, a respeito do "fim do mundo", estão no Apocalipse de João, quando ele dirá, através de metáforas e de imagens, de uma concepção de um estado alterado de consciência, que vê a transformação que se operaria na Humanidade. Mais tarde poderíamos colher outros resultados também no chamado sermão profético de Jesus, que está no evangelista Marcos, capítulo 13, versículo 1 e seguintes, quando Jesus saía do templo de Jerusalém e os discípulos, muito emocionados, dizem: - "Senhor, vede que pedras, vede que templo". E Jesus lhes redargue: - "Em verdade vos digo que não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada". Foram para o Getsêmani, no Horto das Oliveiras, e ali os amigos disseram: "Conta-nos quais serão os sinais que antecederão a isso". Ele narra uma série de fenômenos que certamente atingiriam a Terra. Aconteceu que, realmente, no ano 70, Tito teve a oportunidade de derrubar o templo de Jerusalém, que não foi mais reerguido, e no ano 150, na segunda diáspora dos hebreus, praticamente Jerusalém foi destituída da Terra, somente voltando a ter cidadania quando a ONU reconheceu o Estado de Israel com os direitos que, aliás, lhe são credenciados e que ele merece. Mas as doutrinas religiosas, com o respeito que nos merecem, que sempre se caracterizaram pelo Deus-temor ao invés do Deus-amor, por manterem as pessoas na ignorância e intimidá-las, ao invés de libertá-las pelo esclarecimento, estabeleceram que o fim do mundo seria desastroso, seria cruel, como se não vivêssemos perpetuamente num mundo desastroso e cruel, cheio de acidentes, de vulcões, de terremotos, de maremotos, de guerras, de pestes, etc. Para nós, espíritas, o fim do mundo será o fim do mundo moral negativo, quando nós iremos combater os adversários piores, que são os que estão dentro de nós: as paixões dissolventes; os atavismos de natureza instintiva agressiva; a crueldade; o egoísmo e, por conseqüência, todos veremos uma mudança da face da Terra, quando nós, cidadãos, nos resolvamos por libertar-nos em definitivo das nossas velhas amarras ao ego e das justificativas por mecanismos de fuga. Então o homem do futuro será um homem mais feliz, sem dúvida. Haverá uma mudança também da justiça social. Haverá justiça social na Terra, porque nós, as criaturas, compreenderemos os nossos direitos, mas acima de tudo, os nossos deveres, deveres esses como fatores decisivos aos nossos direitos. Daí, a nossa visão apocalíptica do fim dos tempos é a visão da transformação moral em que esses tempos de calamidade passarão a ser peças de museu, que o futuro encarará com uma certa compaixão, como nós encaramos períodos do passado que nos inspiram certo repúdio e piedade pela ignorância, então, que vicejava naquelas épocas.