ENTREVISTA COM DIVALDO FRANCO
Muitos acreditam no final dos tempos. Como o Espiritismo
encara isso?
Divaldo: Como uma superstição. Normalmente, através
da história, a mudança de século sempre trouxe,
particularmente na idade média, o fantasma do horror. Baseado em
que, nessa mudança, a Terra se deslocaria do eixo, haveria uma
erupção de epidemias, de terremotos, maremotos, de fenômenos
sísmicos e, na virada do milênio, foi ainda mais apavorante,
por causa desse mesmo critério supersticioso. Em todo o
Evangelho, nos 27 livros que o constituem, não há nenhuma
referência ao novo milênio. As observações, a respeito do
"fim do mundo", estão no Apocalipse de João, quando
ele dirá, através de metáforas e de imagens, de uma
concepção de um estado alterado de consciência, que vê a
transformação que se operaria na Humanidade. Mais tarde
poderíamos colher outros resultados também no chamado sermão
profético de Jesus, que está no evangelista Marcos, capítulo
13, versículo 1 e seguintes, quando Jesus saía do templo de
Jerusalém e os discípulos, muito emocionados, dizem: -
"Senhor, vede que pedras, vede que templo". E Jesus
lhes redargue: - "Em verdade vos digo que não ficará pedra
sobre pedra que não seja derribada". Foram para o
Getsêmani, no Horto das Oliveiras, e ali os amigos disseram:
"Conta-nos quais serão os sinais que antecederão a
isso". Ele narra uma série de fenômenos que certamente
atingiriam a Terra. Aconteceu que, realmente, no ano 70, Tito
teve a oportunidade de derrubar o templo de Jerusalém, que não
foi mais reerguido, e no ano 150, na segunda diáspora dos
hebreus, praticamente Jerusalém foi destituída da Terra,
somente voltando a ter cidadania quando a ONU reconheceu o Estado
de Israel com os direitos que, aliás, lhe são credenciados e
que ele merece. Mas as doutrinas religiosas, com o respeito que
nos merecem, que sempre se caracterizaram pelo Deus-temor ao
invés do Deus-amor, por manterem as pessoas na ignorância e
intimidá-las, ao invés de libertá-las pelo esclarecimento,
estabeleceram que o fim do mundo seria desastroso, seria cruel,
como se não vivêssemos perpetuamente num mundo desastroso e
cruel, cheio de acidentes, de vulcões, de terremotos, de
maremotos, de guerras, de pestes, etc. Para nós, espíritas, o
fim do mundo será o fim do mundo moral negativo, quando nós
iremos combater os adversários piores, que são os que estão
dentro de nós: as paixões dissolventes; os atavismos de
natureza instintiva agressiva; a crueldade; o egoísmo e, por
conseqüência, todos veremos uma mudança da face da Terra,
quando nós, cidadãos, nos resolvamos por libertar-nos em
definitivo das nossas velhas amarras ao ego e das justificativas
por mecanismos de fuga. Então o homem do futuro será um homem
mais feliz, sem dúvida. Haverá uma mudança também da justiça
social. Haverá justiça social na Terra, porque nós, as
criaturas, compreenderemos os nossos direitos, mas acima de tudo,
os nossos deveres, deveres esses como fatores decisivos aos
nossos direitos. Daí, a nossa visão apocalíptica do fim dos
tempos é a visão da transformação moral em que esses tempos
de calamidade passarão a ser peças de museu, que o futuro
encarará com uma certa compaixão, como nós encaramos períodos
do passado que nos inspiram certo repúdio e piedade pela
ignorância, então, que vicejava naquelas épocas.